Alkatiri na SIC: "O MUNDO TEM OS OLHOS EM TIMOR"
O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste, Mari Alkatiri, preside o maior partido da oposição e senta-se no Parlamento no lugar de deputado. Actualmente em Portugal, vindo de Angola e em vias de partir para os EUA, o secretário-geral da Fretilin anda pelo estrangeiro a reunir apoios. Alkatiri considera que falta pouco para o Governo de Xanana Gusmão chegar ao fim.
"O mundo inteiro tem os olhos postos em Timor-Leste", diz Mari Alkatiri, mas não pelas melhores razões. "Logo depois da restauração da independência fomos quase sempre elogiados pela forma como estávamos a conduzir a reconstrução do país e na criação de um estado democrático de direito", descreve o secretário-geral da Fretilin.
Mas esta situação mudou com a crise de 2006 e com "novo governo que não tem nenhum sentido de Estado", acusa Alkatiri. "Xanana não tem legitimidade para governar o país porque perdeu as eleições, e nos últimos nove meses de governação só gastou dinheiro", acrescentou.
Alkatiri descarta a possibilidade de um golpe de Estado: "Não vamos fazer o que outros fizeram em 2006 contra o governo da Fretilin. Vamos fazer um trabalho político mais profundo com a população para esta entender a situação e ver a diferença entre estes dois governos".
O secretário-geral da Fretilin diz que a actual aliança está a sofrer baixas e que falta pouco para mostrar que o governo de Xanana Gusmão "tem os dias contados". "Vai haver auditorias às contas do governo porque há muitas alegações de corrupção", afirmou.
ENTREVISTA DE MARI ALKATIRI À SIC
SIC: (...) Qual é o objectivo desta sua viagem pelo estrangeiro?
Mari Alkatiri: Eu penso que todo o mundo tem ainda os olhos postos em Timor-Leste e há necessidade que como o maior partido do país, não é o maior partido da oposição, somos realmente o maior partido do país, consigamos fazer chegar aquilo que nós entendemos ser a versão mais correcta da explicação da situação actual em Timor-Leste.
SIC: Quando diz que o mundo inteiro tem os olhos postos em Timor-Leste já não é pelas melhores razões, pois não?
Mari Alkatiri: Há uma preocupação muito grande do mundo em relação a Timor-Leste porque logo depois da restauração da independência fomos quase sempre elogiados pelas instituições internacionais e não só pelos países amigos pela forma como estávamos a conduzir o processo de reconstrução do país e fundamentalmente o processo da criação de um Estado democrático de direito.
SIC: Não está concretizado?
Mari Alkatiri: Naturalmente que sofreu um recuo tremendo a partir de 2006 com a crise que se verificou no nosso país e que ainda está em curso e com o novo governo que não tem nenhum sentido de Estado, não tem noção de Estado e que tudo tem feito no sentido de impor a vontade pessoal de uma só pessoa.
SIC: Xanana Gusmão?
Mari Alkatiri: Naturalmente...
SIC: Que o senhor considera que não tem capacidade para governar o país?
Mari Alkatiri: Eu considero sim que para além de não ter legitimidade para governar o país, porque perdeu as eleições, já demonstrou durante 8 meses de governação, quase 9 meses, que a governação para Xanana é gastar dinheiro e pouco mais...
SIC: O Senhor esteve em Angola, li declarações suas a dizer que tinha o apoio do MPLA, estes apoios que reúne o que é que pretende fazer com eles, pretende antecipar eleições em Timor?
Mari Alkatiri: A situação que vai determinar a antecipação das eleições é a situação interna no país...todos acompanharam...
SIC: Mas não há uma demissão de Xanana Gusmão ou há um golpe de Estado?
Mari Alkatiri: Não, não haverá um golpe de Estado. Nós já demonstrámos que não vamos repetir aquilo que os outros fizeram em 2006 contra o governo da Fretilin.
Nós pensamos que há a necessidade de um trabalho político mais profundo com a população para a população compreender perfeitamente a situação e ver a diferença entre a governação da Fretilin e a governação agora de Xanana e dos seus aliados. Naturalmente que a própria dita Aliança da Maioria Parlamentar já sofreu baixas. Há um partido da aliança que já abandonou a aliança, há outro que é a oposição interna da própria aliança portanto há baixas sistemáticas da própria aliança...
Neste momento podemos dizer que faltam só algumas medidas a serem tomadas para mostrar claramente a Xanana que a governação dele tem os dias contados.
SIC: Que medidas são essas?
Mari Alkatiri: São medidas que têm a ver com auditorias a contas do governo para tirar absolutamente dúvidas, há alegações de corrupção de toda a ordem, de esbanjamento do erário público, há alegações de má governação, de actos legislativos que são ilegais e inconstitucionais, portanto tudo isso acho que é o suficiente para mostrar a Xanana Gusmão que não só não tem capacidade para governar como não tem legitimidade.
SIC: Quem são os seus apoios em Portugal?
Mari Alkatiri: Eu naturalmente que eu não quero de forma alguma que Portugal apoie A, B, ou C, eu quero que Portugal deve apoiar é o projecto nacional de criação de um Estado de direito democrático, e isso significa o reforço do primado da lei na vida do país, na área do reforço da justiça, uma administração pública transparente, uma boa governação para o país.
SIC: Se o Senhor não quisesse que Portugal tomasse posição não estaria em Portugal a tentar contactos com algumas individualidades. Com certeza que é a sua opinião que lhes veio transmitir?
Mari Alkatiri: Naturalmente que trago a minha opinião...
SIC: Por isso é que lhe perguntei que apoio já conseguiu com estas suas viagens...
Mari Alkatiri: O que eu acho que é fundamental é continuarmos a manter em Portugal um consenso em torno de um Estado viável
SIC: O senhor geriu o petróleo com a criação de um fundo que já ultrapassou em muito as expectativas, que já atingiu o valor que era esperado ter em 2019. O que é que acontece em Timor para que este projecto não se consiga traduzir numa melhor qualidade de vida para a população?
Mari Alkatiri: Se Xanana continuar no governo com a sua aliança naturalmente que isto não acontecerá. Xanana está a governar o país com um orçamento equivalente a quatro anos de Orçamento de Estado do meu tempo. Mesmo assim há pura e simplesmente o esbanjamento. Subsidia consumos, o que cria mais dificuldades a uma certa competitividade da produção interna com o produto importado. O produto importado torna-se tão barato, tão barato pelos subsídios que ele impõe que naturalmente que desincentiva a produção interna o que significa que desincentiva a própria economia, o desenvolvimento da economia nacional. A continuar-se com esta maneira de governar naturalmente que o fundo de petróleo algum dia esgota e nada se faz no sentido de criar uma alternativa ao próprio fundo de petróleo.
SIC: O que justifica após todos estes anos, com as riquezas naturais que Timor-Leste tem que não tenha havido da parte do investimento estrangeiro vontade de entrar no território e de o fazer desenvolver também. Há entraves por parte da governação?
Mari Alkatiri: Não, de forma alguma. A própria situação objectivamente desde
SIC: Mas há alguma economia capaz de absorver e de aproveitar esses fundos ou tinha tudo de ser feito com investimento público?
Mari Alkatiri: Não, o investimento público deve ser feito para criar as condições para que pudesse atrair mais investimento privado internacional.
SIC: Qual o papel de Ramos Horta no país neste momento?
Mari Alkatiri: Neste momento Ramos Horta representa um papel de equilíbrio no país, porque no fundo apesar de ter sido eleito contra o candidato da Fretilin tem o apoio da Fretilin para poder garantir o equilíbrio político, o equilíbrio social em Timor-Leste.
SIC: Com quem é que o Senhor tem relações de Estado. O Senhor dá-se bem com Ramos Horta?
Mari Alkatiri: Relações de Estado com Ramos Horta são boas, naturalmente que há diferenças, sempre houve diferenças entre nós, mas neste momento ele está a ocupar uma posição cimeira no Estado de Timor-Leste e tem o nosso apoio no sentido de poder realmente ajudar a criar condições para se ultrapassar a crise.
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