Por; António Guterres
É preocupante quando a justiça e a lei são constantemente ignoradas e violadas pelos próprios governantes, é preocupante quando as pessoas vão perdendo o respeito pelas instituições e pelos seus responsáveis, é preocupante quando o povo constata que a lei não é igual para todos. Sendo assim cada um pode fazer e seguir a sua própria lei, de acordo com a sua conveniência, um caminho que não costuma levar a finais felizes para ninguém.
A recente libertação ilegal de Maternus Bere, ex-comandante da milícia que assassinou centenas de inocentes timorenses no Distrito de Suai foi um grande atentado contra a justiça e o Estado de Direito em Timor-leste. Houve de facto, mulheres, crianças e homens, assassinados a sangue frio.
Esse é um facto indiscutível. O governo AMP está a implementar uma cultura de impunidade no país. Desarmar a justiça e governar o país não com base constitucional, mas sim, em torno das personalidades. A conclusão lógica que se pode tirar daqui é "Anarquia", a mascara que a desobediência civil usa para encobrir a sua verdadeira face.
Sou um adepto da democracia, optimista acerca do desenvolvimento e progresso do país, mas também não deixo de ser realista, com o sistema político adoptado por este governo. Trata-se de um sistema incompatível com a realidade, não contribuindo em nada para fortalecer a nossa democracia. Sem justiça não há desenvolvimento sustentável, sem justiça não há estabilidade política, sem justiça não há segurança.
Os timorenses estão aprendendo a conhecer os políticos que têm. Os resultados da governação não coincidem com o que os actuais governantes andam a propagandear, as condições reais de vida dos timorenses nem de perto nem de longe se aproximam do que prometeram. Com o passar do tempo, o povo deixou de acreditar nos políticos que estão no poder, isto, verificou-se nas recentes eleições para os chefes sucos, onde as populações deram a maioria absoluta à FRETILIN.
Continuando a falar em nome do interesse nacional, pactuar com uma certa forma de ser, pensar e actuar, marcada pela arrogância e pela vontade de controlar tudo e todos. É altura de dizer basta, exigimos uma democracia clara e uma política honesta.
É urgente que os governantes encarem de uma vez por todas a realidade e falem verdade. O povo está farto, porque o governo não consegue apresentar soluções para o país.
O interesse nacional exige que os políticos falem verdade e sobretudo, pautem a sua acção concreta, por uma preocupação sincera e consequente, com o quotidiano das pessoas, sendo coerente não só no discurso mas também no agir. Não vamos conseguir tolerar por muito mais tempo, a política de espectáculo. O país está farto de ser enganado, por isso, 2010 pode muito bem ser o ano da viragem.
Com tantos escândalos na estrutura política deste governo, será que eles merecem ainda a nossa confiança?, será que este governo ainda tem moral política para continuar à frente do país?
Eu creio que não. Considero que até ao momento a FRETILIN é a força política que melhor serviço presta. Uma oposição vigilante, construtiva, atenta e interventiva, que sabe sempre apresentar propostas de governo alternativas, viáveis e sensatas.