O chefe de Estado Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), Taur Matan Ruak, disse à Agência Lusa que nunca concordou com a presença de tropas estrangeiras no seu país e que podem partir em qualquer momento que queiram.
"Eu, general, nunca aceitei a presença internacional, porque lutei 24 anos, contando unicamente com as minhas próprias forças", afirmou Taur Matan Ruak, a poucos dias da celebração dos dez anos da consulta popular de 30 de Agosto de 1999, que conduziu Timor-Leste à independência.
"Eles [forças estrangeiras] estão aqui porque foram chamados pelo Estado de Timor e vai haver um dia que vão sair quando sentirem que já não são mais úteis", prosseguiu o responsável das forças timorenses.
Estão em Timor-Leste cerca de 750 militares australianos e neozelandeses no âmbito da Força de Estabilização Internacional, pedida pelas autoridades timorenses durante a crise institucional e de segurança em 2006, que teve envolvimento das forças armadas e da polícia, deixando vários distritos em estado de sítio e 150 mil deslocados.
"Em qualquer altura que queiram sair, que saiam. Já deviam ter saído, mas pode ser mais tarde, não há problema", disse o chefe das forças armadas timorenses, deixando claro que seguirá a orientação do poder político.
"Quem sou eu? Sou só um general sob as orientações do poder político", afirmou Taur Matan Ruak, acrescentando que a relação entre as suas forças e as estrangeiras "nunca é fácil, para dizer a verdade".
Há dez anos, Taur Matan Ruak era o comandante das Falintil e encontrava-se acantonado com cerca de mil guerrilheiros em Uai Mori, a meia-encosta da montanha do Mundo Perdido.
No dia 30 de Agosto, recorda-se de ter impedido os guerrilheiros de votar "para mostrar à Indonésia a confiança no povo e na vitória".
No dia 30 de Agosto, recorda-se de ter impedido os guerrilheiros de votar "para mostrar à Indonésia a confiança no povo e na vitória".
As acções das milícias integracionistas, apoiadas pelo exército indonésio, "não eram nada, porque aquilo que eles faziam antes do referendo era bem pior", assinalou Taur Matan Ruak
"A nossa luta não era feita na base da provocação mas dos nossos planos e nossas intenções, com objectivos bem claros", assinalou.
Afinal, "era a primeira e única vez que íamos decidir pela vitória e independência do nosso país", frisou o comandante militar.
"Os guerrilheiros sabiam e foram orientados nesse aspecto de que, no dia em que houvesse muito massacre e muita confusão, era o dia que iríamos ganhar a guerra. Não valia a pena agir de forma irracional como estavam a fazer os indonésios e milícias", explicou.
As cerca de mil mortes ocorridas no processo da consulta popular "foram um mal necessário", declarou Taur Matan Ruak.
"As últimas estatísticas apontam para 180 mil mortes (no período da ocupação da Indonésia], portanto mil entre 180 mil, por amor de Deus", disse o comandante militar, para quem é "compreensível a frustração dos indonésios, depois de 24 anos convencidos que iam vencer", frisou.
"Levaram uma bofetada, é compreensível", insistiu.
Taur Matan Ruak considerou ainda que nos últimos dez anos a liderança timorense sentiu dificuldade em cumprir a expectativa da população, e que apesar do "susto de 2006", o país está no caminho certo.
Taur Matan Ruak considerou ainda que nos últimos dez anos a liderança timorense sentiu dificuldade em cumprir a expectativa da população, e que apesar do "susto de 2006", o país está no caminho certo.
O comandante das forças armadas lembrou ainda que "a história do país nunca foi um mar de rosas", enquadrando a crise de 2006 como "mais um teste de sobrevivência" na luta pelo desenvolvimento.
"Somos capazes de enfrentar as pancadas e de projectar o país", afirmou, concluindo que "Timor não é um estado falhado".
LUSA