por: ABEL COELHO DE MORAIS
Muitas das promessas da independência continuam por cumprir no território, mas parece estar em formação um consenso para a estabilidade política. Analistas sublinham a necessidade de o poder político ser transferido para uma nova geração.
Uma onda de violência e destruição marcou o fim da ocupação indonésia, em 1999. Quase uma década depois, em 2008, a culminar um ano e meio de grave crise política e institucional, morre o líder rebelde, ex-major Reinado, e fica gravemente ferido o Presidente Ramos-Horta. A história de Timor-Leste, no presente como no passado, continua a escrever-se com sangue. E uma década após o referendo, muitas promessas da independência continuam por cumprir.
A elevada taxa de desemprego - 40% nas áreas urbanas - e o baixo nível de vida da grande maioria da população - 90% vivem com cerca de um dólar por dia - constituem os principais desafios a vencer. A ausência de indústrias é outro factor do bloqueio social do país, onde a vida de boa parte da população assenta na economia de auto-subsistência.
As receitas do petróleo e do gás natural - o coração da economia timorense - estão actualmente no centro de uma controvérsia em Díli, com a oposição a criticar o Executivo de Xanana Gusmão por utilizar estas divisas para comprar a paz social e subsidiar o preço da base da alimentação - o arroz, que está a ser importado. Esta estratégia do Governo de "comprar a paz", como admitiu esta semana o vice-primeiro-ministro Mário Carrascalão, para ultrapassar as consequências da crise de 2006/2007, custou ao país cerca de 70 milhões de euros. Na perspectiva de Carrascalão, este é um preço necessário para a estabilização de uma sociedade atravessada por profundas clivagens, lealdades e práticas sociais herdadas de anteriores circunstâncias históricas.
A oposição mantém que estas verbas estão a ser desperdiçadas ao não serem canalizadas para a construção de infra-estruturas e de investimento em áreas produtivas, na educação e saúde. Mas não deixa de ser verdade que, sem paz social, não é possível atrair investimento estrangeiro.
A conjuntura política parece hoje estabilizada, com oposição, principalmente a Fretilin, e partidos do Governo a apostarem na pacificação do país, de modo a permitir uma rápida saída da Força Internacional de Estabilização. A prioridade é apagar a imagem de um país de instituições frágeis, com um pessoal político em permanente confronto, refém das conflitos e das circunstâncias da conjuntura de 1974-75 e do posterior combate na clandestinidade e no exterior. O 10.º aniversário do referendo é talvez o momento ideal para se entender em Díli que é necessária uma nova geração na liderança política, com um outro passado e outro tipo de formação, tese defendida nas últimas semanas por analistas que acompanham a situação no território.
DN