Díli - O Presidente de Timor-Leste pediu hoje à Indonésia, durante a cerimónia dos dez anos da consulta popular que conduziu o país à independência, a devolução do corpo de Nicolau Lobato, ex-líder da Fretilin e da resistência armada, abatido no último dia de 1978.
"Pedimos aos nossos irmãos e irmãs indonésios para nos devolverem o corpo do nosso irmão amado Nicolau Lobato, que morreu como um herói na véspera do Ano Novo, em 1978", disse Ramos-Horta no seu discurso perante vários dignitários internacionais, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros indonésio, Hassan Wirajuda.
"Depois da sua morte em combate, o corpo foi enviado de helicóptero para Díli, para ser examinado e confirmada a identidade, tendo sido então levado para a Indonésia e ali enterrado", prosseguiu Ramos-Horta, que prestou o seu tributo aos membros do comité central da Fretilin, "praticamente dizimado" em 1979, "já que são eles os heróis que iniciaram esta longa marcha para a liberdade".
O Chefe de Estado timorense deu aliás o nome de Nicolau Lobato ao novo palácio presidencial, inaugurado no dia 27, e que hoje albergou a cerimónia dos dez anos da consulta popular de 30 de Agosto de 1999, legitimando a independência do país, embora com um custo de mais de mil mortos, a somar a 180 mil durante os 24 anos de ocupação indonésia.
Sob um sol inclemente ao início da manhã, Ramos-Horta usou o inglês, o português e o tétum para proferir o seu discurso, o único da cerimónia de hoje, conforme o destinatário de cada mensagem.
"Como ser humano, vítima e Chefe de Estado, encerremos, de uma vez por todas, os capítulos da nossa experiência trágica de 1975-1999, perdoando àqueles que nos fizeram mal", disse em inglês o Presidente timorense, garantindo que "não haverá tribunal internacional" para os abusos em Timor-Leste.
"Para responder aos que são tão heróicos e insistentes em que eu seja igualmente valente lutando como D. Quixote de la Mancha e arraste para a prisão todas as pessoas que nos fizeram mal, da Indonésia à Austrália, à Europa e Estados Unidos, só direi que tenho fé nos progressos da Indonésia", disse Ramos-Horta, esperando que sejam os próprios indonésios a fazer a sua Justiça.
No mesmo sentido, apelou às Nações Unidas "para que dissolvam a Unidade de Crimes Graves", destinada a investigar os crimes em 1999, "e reencaminhem o seu orçamento para o fortalecimento do aparelho judicial" timorense.
Nenhum chefe de estado estrangeiro esteve presente na cerimónia de hoje, assistida pelos chefes das diplomacias portuguesa e indonésia, pela governadora geral da Austrália e pelo representante do secretário-geral das Nações Unidas em Timor-Leste.
Perante a bandeira nacional, as principais figuras do Estado timorense e unidades das forças de defesa e de segurança do país, formadas junto à Praça das Nações Unidas, na entrada do palácio, onde mandou instalar bandeiras de mais de cem países, o Presidente timorense declarou ainda que hoje se celebra "a construção de uma nação pacífica, democrática e próspera, para erradicar a violência e a extrema pobreza no espaço de uma geração", pedindo para o efeito a boa governação e o fim da corrupção.
O discurso de Ramos-Horta, intitulado "Os sonhos não morrerão nunca, temos de manter a fé, a luta continua!", foi inspirado numa intervenção de "um grande americano" e "um dos amigos mais dedicados de Timor-Leste", o senador Edward Kenned, falecido recentemente, na Convenção do Partido Democrático em 1980.
Ramos-Horta lembrou Sérgio Vieria de Mello, que, antes da sua morte num atentado no Iraque em 2003, chefiou a Administração Transitória da ONU em Timor-Leste.
"Como estaria orgulhoso de estar aqui hoje", disse o Presidente timorense, prestando também homenagem aos militares internacionais mortos durante a pacificação do país.
Angola Press