Macau, China, 23 Jun (Lusa) - A Fretilin vai concorrer sozinha às próximas legislativas em Timor-Leste, mas mesmo com maioria absoluta “aceita formar Governo” com todos os partidos interessados em governar o país, disse hoje à agência Lusa Mari Alkatiri.
Contactado telefonicamente pela Agência Lusa a partir de Macau, Mari Alkatiri explicou que a Fretilin acredita em legislativas já em 2010, dois anos antes do ciclo eleitoral normal, “tal como estava a ser discutido antes dos incidentes de Fevereiro de 2008” com os ataques ao Presidente Ramos-Horta e ao primeiro-ministro Xanana Gusmão.
“Vamos sozinhos a eleições, mas mesmo que se consiga obter uma maioria absoluta no acto eleitoral, queremos estabelecer uma coligação com todos os partidos que estejam interessados em governar”, sublinhou, não excluindo a possibilidade de um acordo com o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) de Xanana Gusmão.
“Nós não vamos discriminar partidos em função da sua grandeza e aqueles que quiserem estar connosco são bem-vindos e os que quiserem ficar na oposição nós também respeitamos” disse.
“Não há exclusão de ninguém, nem de pessoas nem de partidos”, reiterou.
Mari Alkatiri recordou que já em 2002 a Fretilin estava disponível para incluir outros partidos no Executivo, o que não veio a acontecer apenas porque “queriam integrar o Governo e manter-se na oposição no parlamento”.
“Por isso fizemos um Governo de inclusão com independentes”, afirmou.
Com um ciclo eleitoral a fechar em 2012, Mari Alkatiri não acredita que Xanana Gusmão se mantenha até ao fim como primeiro-ministro porque “há uma desgovernação completa, um descontrolo total e a corrupção aumenta de dia para dia”, citando como exemplo o “negócio do arroz em que familiares de membros do Governo estão envolvidos em projectos de milhões de dólares” e a “compra de combustível para a produção de energia em Timor-Leste”.
Por outro lado, disse, um governo de Xanana Gusmão até ao fim será “um desastre” e vai terminar com a “morte política” do líder da resistência que “é uma figura ainda necessária ao país porque ele fez a resistência e ainda tem um papel de referência política e de referência moral em Timor-Leste”.
“Desde os incidentes que não falamos sobre a antecipação das eleições, mas eu acho que devemos insistir nesse acordo, para o bem do país”, acrescentou.
Além da coligação chefiada pela Fretilin, Mari Alkatiri está ainda disponível para integrar um Governo liderado por outra força política, mas recusa qualquer cenário de governação chefiada por outros se o seu partido for o mais votado.
A Fretilin não está no Governo timorense apesar de ser a principal força política do país com 21 dos 65 deputados, enquanto que o CNRT tem apenas 18 parlamentares no hemiciclo, mas conseguiu formar Governo com coligações pós-eleitorais.“Tudo isso tinha sido aceitável se o Presidente da República tivesse convidado antes a Fretilin a formar Governo e tivéssemos dito que não”, concluiu.