Frente Revolucionária de Timor Leste Independente

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

12 DE NOVEMBRO 1991

*** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa ***
Díli, 02 Abr (Lusa) - Os restos mortais de 16 vítimas do Massacre de Santa Cruz, de 12 de Novembro de 1991, foram hoje transferidos para o Hospital Central Guido Valadares, em Díli, Timor-Leste.

A exumação dos 16 corpos, a primeira desde os acontecimentos de 1991, "abre uma luz, um brilho para a pesquisa que ainda não temos" sobre o massacre, afirmou à Agência Lusa um dos sobreviventes, o ex-prisioneiro político Gregório Saldanha.

Os 16 corpos foram recuperados nos últimos dias no cemitério de Hera, a leste de Díli, pela Equipa Forense Internacional (IFT, da sigla inglesa), um projecto do Instituto de Medicina Forense de Victoria, Austrália, e da Equipa Argentina de Antropologia Forense (EAAF), fundada em 1984 em Buenos Aires.

Após a exumação em Hera, os restos mortais foram colocados simbolicamente na antiga cadeia portuguesa e indonésia de Balide, em Díli, onde funciona o secretariado da "pós-CAVR", a estrutura herdeira da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação timorense.

A trasladação para o Hospital Guido Valadares abre uma nova fase no trabalho da IFT, que tentará cruzar a análise dos restos mortais com as informações das famílias das vítimas do Massacre de Santa Cruz, de forma a obter identidades para cada ossada.

"Embora seja um número pequeno, a realização destas exumações já é um grande alívio", explicou Gregório Saldanha, coordenador do Comité 12 de Novembro.

"É uma necessidade de longo tempo, um peso que começa a sair", acrescentou Gregório Saldanha, que sempre defendeu que a investigação forense da IFT devia incluir Hera e não apenas locais a oeste da capital onde se supõe existir a vala ou valas-comuns principais do Massacre de Santa Cruz.

A primeira série de escavações, realizada na área de Tíbar em 2008, a oeste de Díli, "não revelou a existência de nenhuns restos humanos", afirmou na altura a antropóloga forense Soren Blau, da Austrália.

Esta semana, Soren Blau e o seu colega argentino Luis Fondebrider puderam anunciar a descoberta dos 16 corpos em 19 campas abertas no cemitério de Hera, sublinhando que "três das campas estavam vazias".

"O trabalho da IFT confirma as indicações de uma testemunha sobre a época e a forma das sepulturas", afirmou a investigadora, em conferência de imprensa em Díli.

A antropóloga forense australiana referiu, sem identificar, que a testemunha principal para as exumações de Hera foi "uma pessoa envolvida no enterro das vítimas após o massacre em 1991".
"A posição dos corpos, a idade e o sexo dos indivíduos, bem como a observação preliminar dos traumas ósseos confirmam a alegação de que se trata de indivíduos relacionados com os acontecimentos resultantes do Massacre de Santa Cruz", esclareceu Soren Blau.
A IFT recolheu em Hera "restos dos caixões originais, roupa bem preservada e bens pessoais" que serão agora analisados em detalhe com a ajuda de pessoal médico timorense e das informações das famílias das vítimas.

O Massacre de Santa Cruz nunca foi investigado por especialistas independentes até às pesquisas da equipa australiano-argentina. Gregório Saldanha recordou hoje à Lusa que a lista das vítimas confirmadas é de 73, "mas isto não significa o final do registo".

"Temos obrigação moral de continuar a procurar os restos mortais, não apenas deste mas de outros massacres", salientou Gregório Saldanha.
"Estas exumações são apenas um ponto de partida", disse.
Lusa/fim