Por: Lino Lopes
Timor-Leste depara-se hoje com um problema que atinge tantos outros países do Terceiro Mundo: prostituição infantil. Todos concordamos que é urgente resolver este flagelo.
Contudo, para se poder encontrar uma solução para esta dificuldade, é preciso conhecer as suas causas. A razão que leva meninas de 10 anos a prostituírem-se em troca de um miserável dólar é simples: pobreza. Há uma urgência de satisfazer necessidades básicas, a começar pela alimentação.
À primeira vista, isto poderia significar que Timor é um país pobre, sem a mínima capacidade financeira para adoptar políticas, por mais simples que sejam, de combate às desigualdades sociais.
Mas isto é uma visão simplista das coisas. É preciso ver para além da espuma. Nos últimos dois anos, entraram no país cerca de 2 biliões de dólares, provenientes das receitas geradas pelo negócio do petróleo.
Para onde foi todo esse dinheiro? Trata-se de uma questão simples. Já a resposta não é assim tão simples. No entanto, há uma certeza. Falei há pouco de desigualdades. Elas são evidentes em Timor. Há injustiças perante as quais o mundo não pode fechar os olhos. Quando se sabe que os conselheiros estrangeiros contratados pelo governo timorense ganham 20 mil dólares por mês, não se pode ficar indiferente. É algo revoltante, mesmo para quem não é timorense (é o meu caso).
80% da população de Timor vive com menos de um dólar por dia. Simultaneamente, essa mesma população vê os funcionários governamentais percorrerem as ruas de Díli nos seus Mercedes bem confortáveis.
Duas ideias importantes podem ser retiradas daqui. Por um lado, é previsível que a população timorense se comece a revoltar mais cedo ou mais tarde. Por outro lado, o mundo olha para Timor. Caso os governantes não saibam, hoje há televisões, internet, jornais, rádios e, acima de tudo, pessoas com capacidade para ver e raciocinar.
Mas voltemos à questão inicial: a prostituição. O que se pode fazer? A resposta passa por repensar os modelos de desenvolvimento em Timor. Problemas como este surgem porque há estratégias erradas que são seguidas. É normal isto acontecer em países jovens, como é o caso de Timor.
É por isso que me parece que as futuras gerações do país têm um papel importante a cumprir. Elas podem mostrar ao mundo que Timor é um projecto viável.