Por ABEL COELHO DE MORAIS – Diário de Notícias – 19.04.09
Fretilin nada fará para desestabilizar o país, mas considera que o Executivo só tem gerido o dia-a-dia, continuando por resolver problemas essenciais, declara o seu secretário-geral.
A situação política permanece instável em Timor-Leste e o actual Governo, chefiado por Xanana Gusmão, pode não completar a legislatura, considera o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, actualmente na oposição.
Alkatiri afirma que o Executivo de Xanana Gusmão pouco mais tem feito do que "comprar a paz, como eles próprios dizem", referiu ao DN, em Lisboa, por onde passou na passada semana a caminho de Bissau, no quadro de uma iniciativa diplomática de Timor-Leste para a crise guineense.
O dirigente da Fretilin pensa que a situação política interna está a deteriorar-se e que o Governo vai ficar fragilizado, pois "vão surgir dentro de uma semana, duas semanas escândalos envolvendo membros" do Executivo "em casos de corrupção". Embora referindo-se apenas "a um ou dois membros do Governo, se isto sucede, é algo grave, que descredibiliza" e põe em causa quem está no poder, afirma Alkatiri. Por isso, o "Governo pode acabar por si". Todavia, a Fretilin não defende a realização de eleições antecipadas e embora continue a contestar a solução governativa que resultou do escrutínio de Junho de 2007, "nada fará fora da legalidade", assegura Alkatiri.
Sobre o desempenho do Governo de Xanana, o responsável da Fretilin afirma que aquele "teve a sorte de chegar ao poder num momento em que Timor-Leste tinha muito dinheiro" e está a usá-lo para "pagar aos deslocados o seu regresso às localidades, está a usá-lo para manter os peticionários quietos, mas não está a usar o dinheiro para o desenvolvimento". Assim, não se pode dizer que "este Governo governe. Está apenas a comprar paz, mas esta não se compra, constrói-se com desenvolvimento". Este, por outro lado, acusa o dirigente da Fretilin, "tem sido totalmente negligenciado". Alkatiri considera, por outro lado, estranho o facto de se terem dado poucos passos para o esclarecimento da "crise de 2006". Se as origens desta não forem apuradas, "é o próprio país que sai descredibilizado".
O antigo primeiro-ministro timorense, de 2002 a 2006, reconhece que foram dados passos na investigação, mas lembra que, além dos acontecimentos que precipitaram a sua saída do poder, há também o "atentado ao Presidente [José Ramos-Horta], em 2008, que também não está esclarecido" - "vamos ver como os tribunais vão tratar o caso".