Diário de Notícias – Lusa
A realização de eleições na Guiné-Bissau nos próximos meses "é uma precipitação", afirmou o ex-primeiro-ministro e líder da oposição de Timor-Leste, Mari Alkatiri, em entrevista à Agência Lusa em Díli.
"O mais importante é não nos precipitarmos com eleições", afirmou Mari Alkatiri sobre a forma como a Guiné-Bissau poderá ultrapassar a actual "instabilidade".
Mari Alkatiri chefia uma delegação oficial do Estado timorense que estará cerca de um mês em Bissau, na sequência dos atentados que vitimaram, na mesma madrugada, o chefe das Forças Armadas guineenses e o Presidente da República.
"Eu sei que é uma imposição constitucional mas como evitar haver precipitação?", questiona o actual líder da oposição sobre a transição guineense, ressalvando que não vai a Bissau "para dar lições a ninguém mas apenas partilhar a experiência timorense".
A realização de eleições "dois meses depois do assassinato do chefe de Estado e do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas é, em qualquer parte do mundo, uma precipitação", explicou Mari Alkatiri.
"Tem que se deixar funcionar as instituições para que retomem o seu funcionamento normal: o Governo, a Presidência da República, as Forças Armadas, o Parlamento. É nisso que a comunidade internacional deve concentrar-se" na Guiné-Bissau, sublinhou o ex-primeiro-ministro de Timor-Leste.
Na entrevista à Lusa sobre a sua missão guineense, Mari Alkatiri salientou que os atentados contra o general Tagme Na Waié e o Presidente João Bernardo "Nino" Vieira foram "o ponto culminante" de uma longa crise.
"Esses acontecimentos marcaram o ponto culminante da crise, porque agora Bissau está sem violência nenhuma e a vida corre normalmente e não foi necessário a intervenção internacional", declarou Mari Alkatiri.
"Isso significa que os guineenses reagiram de uma forma positiva. E isso (é algo que) devemos saudar em vez de continuar a criticar" a situação, acrescentou o ex-primeiro-ministro e secretário-geral da Fretilin.
"Até vou comparar com a crise de 2006 (em Timor-Leste), (em) que tivemos que pedir a intervenção de forças internacionais e mesmo assim levou meses, se não anos, para parar a violência", frisou Mari Alkatiri.
"A crise de 2006 obrigou-me a demitir-me, para travar 20 mil pessoas que vinham a caminho de Dili para arrasar a cidade", referiu Mari Alkatiri.
Nesse aspecto, "é bom pensarmos as coisas de forma mais positiva e reconhecer que os guineenses reagiram de forma positiva" aos acontecimentos de 02 de Março.
Sobre a mensagem timorense para a Guiné-Bissau, Mari Alkatiri afirmou que pretende falar da necessidade de "tolerância mútua" que possibilite a "formação de consensos" na liderança e na sociedade.
Da delegação timorense faz parte Roque Rodrigues, ex-ministro da Defesa do I Governo Constitucional, que parte esta quinta-feira para Bissau, segundo o próprio afirmou hoje à Lusa.
Mari Alkatiri deverá sair de Díli para Bissau a 09 de Abril. A delegação timorense integra também o representante de Timor-Leste na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), embaixador José Barreto Martins.